Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


domingo, 30 de setembro de 2012

Visita


Vamos embora,
Essa noite não me escurece tanto.

Todos sonolentos;
Não perceberam meu rosto frio a suplicar as razões.

Vamos embora.
Partir em vão de rima,
Ah! Como era bom o tempo de nevoa em nossos óculos coloridos.

E eles ignoram nossas paixões.

As pernas, hoje, só servem para andar...

Depois de colocar a alma na escrivaninha, preenchemos a janela de propostas
E no absurdo do pulo
Estará alguém do prédio vizinho a questionar nossa liberdade.

E eles não admitem nossa ilusão.

Queremos voar por outras armadilhas, mas nosso governo ordenou a segurança.
Que tédio!
A morte só quando quiserem.

Expulsaram as cervejas.
Jimmy Page ainda goza na vitrola, agora com fones.

Aluviamos que somos,
Eles insistem que não.

Então, a saia florida atravessa rua,
Nossos olhos aprisionam beleza

(sem pretensão).

O som da lataria em sua pele desenvolve o nojo que propomos.

Vamos embora,
Já não podemos mais sangue,
Mais paz, mais os anos 70.

E eles nunca conseguiram nos obter...
Vamos.

(By Camila Passatuto)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Vida da Sinhá


Durante todo o tempo ao balançar
Escutei um caminho, em mim, versar.
Tal qual felicidade era anciã de corpo...
Eu bem tocava meu impossível, de novo.

E percebi os clássicos envolverem o baú
Caixa morta que não balançara
Ao golpe do pé.

Golpeado dançava.

E os tempos verbais
Foi cadeira estática
O que o povo falava
E política, mãe-sola, abafava

Durante toda a pequena vida
Estive a rastejar.
Era vontade menina
Era o fim a tear.

By Camila Passatuto


domingo, 23 de setembro de 2012

O grande bordel da liberdade contemporânea.

Quem será capaz de nos definir em dias de fotografia com muito zoom? Estilo... qual o seu e o meu?
Hoje almoço a liberdade da pontuação, a libertinagem do corpo, a presença de Calíope e a ironia apaixonada, descrita em pele sobre vícios modernos de mente e almas que nos beijam a testa toda manhã.
Mas quem entende a mensagem? Interpretar é livre demais.

Não erro e não erras se mensagem seguir avessa em sua alma, o que importa não é o quanto o leitor modificou o que poeta disse, mas o quanto a alma desse ser foi aflorada pelo poder que a palavra bem quis exercer.

Liberdade. Sempre avante, assusta os enjaulados e força um sorriso nos libertinos cansados.
Amém.


By Camila Passatuto

Preto Velho


Tiraram do pobre velho
Sua sina de amar
Invadiram seu terreiro
E o que restou lançou ao mar.

Vivia em calma chegada
Cada dia uma ciranda
E a vida tocava macio
A ensinar novas lembranças

Hoje ele me pediu
Um pouco de riso
De garra e maleime.
O velho menino, chorando pediu...

Não soava nem gemido...
E que maldade essa
Tirar do caboclo
Atabaques, mulatas e cachimbo?

Dizem que foi bandido
Inveja de filho
Mas não há perdão
Levar tudo que aqui era bendito.

Nosso velho preto
Nosso preto velho
Chorou uma semana
Na outra já estava esperto

Mas que maldade
Que maldade, Sinhá.
Tiraram tudo do santo
Só restou a Fé nesse Congá.

By Camila Passatuto

2005

Arrume o chapéu,
Esconda a fraqueza.
É moderno assaltar
E colocar os pés sobre a mesa.

Condenam os meus...
Malandros,
Entre jovens bêbados e abstêmicos.
O grande pecado
É não sermos idênticos...

Madame, permita explicar
Não há tesão
O volume é apenas
Muita informação.

Sem um centavo para fumar
Somos a vergonha do país
É bonito aqueles que fodem sem rimas a pobre e falsa classe média alienada.

Estou a pisar no passado.
Não pense em fazer alarde,
Não lembre,
Deixe que os livros (de história) nos escondam a verdade.

By Camila Passatuto

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Necrofilia


Pede em mim uma poesia forte
Pois estou a doar as melhores palavras;
Os torturantes versos.

Pede em mim o gozo da vida
Pois estou satisfeito de esplendor
E cais de ninharias do corpo.

Perde em mim sua paz
Labirinta em minha mente
Suas lastimas de mulher.

Pois estou pronto.
Homem.

Pois estou santo
Ao adentrar seu ventre frio,
Morto
Podre.

By Camila Passatuto

sábado, 8 de setembro de 2012

Relato Rápido do Condenado


Eu apertei forte a vontade de escapar.

Derreti as possibilidades de entender o júri que ria, consumia... Arrepiava minha pele com o terror mais suave que já pude saborear.
Não havia nada que poderia haver. Um jeito estranho de afastar a condenação.
A morte que colocaram em minhas mãos... eu nunca pude cometer. Jamais engoli os órgãos, retirei os ossos e beijei a pele solta do corpo infantil, pequeno e tímido de vida.

Eu quis chorar as lagrimas dos fortes, dizer que jamais.
Poderia o homem perdoar o inexistente? Os cães ladravam dentro dos ternos e eu injetava a falsa calma em cada um de meus poros. Eu gemia por dentro e a vontade exorbitante de vomitar não passava. Pensei que não iria aguentar nem mais uma vírgula, nem mais uma interrogação.

Eu estava nu diante aquelas pessoas. Todas com uma foice na mão, com o ódio a dominar o sentir. Eu estava sozinho, garoto pequeno e sem cobertor.

Consumado.

A morte me levou à morte.

Os passos que dava eram tão pesados, fartos do fado de crime. Eu caí. Debati. Rompi todas as dores em um grito que rasgou minha alma ao meio.
Apunhalaram meu respeito pela nuca e segui tonto. Tonto daquela justiça estranha, cega, surda e burra.

Senti as agulhas, a cadeira, os tiros e as mordidas. Os pregos de minha cruz eram grossos demais. Deixaram meu corpo  aos leões de Judá. Israel quis matar Al Capone. Hitler foi assaltado por Collor e o mundo rodava ao contrario.

Vi a dor daquela mãe partir. Partir junto a minha alma desesperada - e perdida a cada alteração de brisa. Eu vi os jornais alegrarem os cristãos com a ida daquele que nunca quis endoidecer em homicídio oculto aos olhos que ali não estavam em sangue.

E já estavam todos livres enquanto eu apertava forte a vontade desvairada de ficar.

By Camila Passatuto

Pedidos de Asfalto

Era infantil
Ínfimo
Perpétuo de escuridão.

Do desejo eu
Gramaticava o erro
Futuro que anulei.

Encrespara voz
Diante de tal
Radiante vereda.

Esculpi tela muda
Por medo e raiva
Razão fina que em mim
Mal acampava.

Era filho da estrada
Que me perdia.
Pequeno
Na grande espreita.

E a vida tremeu,
Assustada,
Cedia um pouco...
Exigia meu nada.

By Camila Passatuto