Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Rei

Em meio aos bosques, procuro e não sei por onde anda a doce felicidade. Em mim, o que move, remove e comove quem vê, é apenas um vento frio que ocupa meu ser em dias constantes de penar.

O sorriso que trago, no estreito rosto, é singelo mistério, ninguém percebe...

E por entre apostas majestosas o meu corpo se lança, o riso sai fácil, a bebida entra lenta e amarga como a velocidade que me esquenta. Tudo tão irreal.

Nunca fingi tão bem.

Depois que partiste me tornei algo ruim, ruim para mim, ruim para a minha sóbria verdade; hoje sou de gosto peculiar para quem deseja provar e cuspir, e redimir em si a vontade do que é bom.

Nada está bem aqui. Não queria que soubesse disso. Não queria que imaginasse a minha dor, pois se imaginar corretamente vai sofrer parte do que sofro.

Sofrimento seu aumenta o meu. Desfaz o querer saber em ti.

Em meus aposentos, no meio da gélida madrugada, que conforta os sentimentos dos espectros amigos, esses que percorrem minha mente, meu corpo, minha sanidade doente, minha luxuria fétida, meu humilde presente caído em forças de si... É onde o sono tem medo e foge, é quando olho para dentro e vejo ruínas, lavas borbulhando, seres clamando por compaixão, lágrimas que em contato com o magma faz rocha em meu chão.

Sou isso, louco monstro da torre em transmutação, sem rumo e não só perdido, mas sim desviado a cada insensato torpor de tristeza.

É uma perda constante, sou eu navegante...

Não sei se imploro ajuda, não sei de nada...

Comigo, o sentido do futuro, não anda mais... É minha farsa tentando me convencer, é meu sujo orgulho tentando, de mim, tudo esconder.

Construí esse castelo de proporções amigáveis e com bases sólidas. O governo, que aqui regia, era sincero, com soldados armados de fidelidade e coragem.

Eu ainda possuo o meu reino, os papéis, as dívidas, as guerras... Eu ainda tenho tudo, ainda administro a província abandonada.

Eu ainda sou rei. Ainda decreto amor por aí. Eu ainda não percebi que o conto feliz da Idade Média não é mais aqui...


By Camila Passatuto

2 comentários:

Danny disse...

Gostei daqui...

Anônimo disse...

Isso é literatura...

Um verdadeiro tear em palavras em aguçados sentidos e senti.

Beijos, Calmila