Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pra lá

Não faz sol e se aqui é sofrer, poeta gosta.
Goza das lágrimas e as palavras nascem...
Morre um pouquinho a cada segundo, mim.
Descalça os causos e olha as mentiras, sim.

Chorar é criança que nasce sem saber que é noite.
E dou a luz a cada descoberta, a cada frio, é noite.
Não acreditei quando no sonho me mostrou, noite.
Morre um pouquinho a cada segundo, morra, noite.

Desgosto de sangue na pele, então ela cai e chora.
Menina que cresceu e mulher que escreveu, chora.
Não faz sol e o sofrer intensificou um querer de dor,
Recebo com a força de quem quer vingança e choro.

Um poeta não escreve nada além do que sofre, do que ama ou odeia, do que tem medo ou desejo, do que é utopia ou amargo licor...queria fazer algo que fosse para lá de tudo isso, que não necessitasse do consumir da minha carne, mas para isso eu precisaria estar para lá da vida.

By Camila Passatuto

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Blá blá blá (?)


E de incertezas é feito cada passo de futuro. E isso me cai tão bem. Esse medo de não entender o que pode vir, ou até mesmo o que pode ir embora. A inquietação de alma é tão constante. Quando tudo se desprende e uma fina camada de angústia começa a rondar meu universo complicado. Hoje faz frio aqui dentro, hoje já fez muito calor.
Um sim e quanta esperança, mas dois minutos, depois, é um medo que dá tanto medo de sentir, de escrever, descrever. A segunda quadratura de saturno pode me levar à loucura plena do ser. Vamos ganhar uma gastrite, vamos ler mais um livro. E  sempre é mais um...as novidades não se fazem, tudo tão previsível. Lá fora os jovens lutando e se perdendo, os adolescentes sonhando e se enganando, os velhos sendo e revivendo... Sempre os mesmos idiomas de reclamações, sempre a mesma fuga desses que querem se fugir, se fugir.
E todos tão parecidos, uma alienação grupal, isso me espanta. Diferentes apenas na forma de se mostrarem fúteis, mas as futilidades são sempre as mesmas. Ninguém se torna autêntico diante do prazer de agradar. E de incertezas é feito cada passo de futuro.
E de futuro os incertos se consomem antes da hora, e vão para o banheiro mais cedo!
Então continuo aqui no meu canto cativo, entrelando entrelinhas, inventando palavras e não colocando vírgulas no que penso. É o que me faz feliz! Vou descobrindo como achar, vou escutando Legião e escrevendo, vou deixando os meus medos, o meu pânico do mundo, minha fobia moderna... Irritando-me, muitas vezes, com os textos,exigindo algo que ainda não sei se tenho a oferecer, colocando no papel coisas que nem sei se são tão importantes serem expostas. Mas o que se guarda apodrece; então vou ficar escrevendo, vivendo, bebendo, tecendo um pouco dessa humanidade.
Porque agora eu sei: É de incertezas que é feito cada passo de futuro.

By Camila Passatuto

sábado, 28 de novembro de 2009

Precípuo (Amour Moderno Amour)

Vendedores ambulantes oferecem soluções,
Tem jornal, tem a alma de alguém circulando,
Tem música e tem dinheiro que não é seu, não.
Alguém joga uma pedra e de quebra acerta...

Tem sangue esperto escorrendo pela testa,
Pessoas curiosas com vozes de mosquitos,
Vendedores ambulantes oferecem soluções.
Alguém coloca uma meia suja e estanca, dói.

Os carros não param de passar, o sangue cai.
Meninos com pés negros conseguem moedas.
Tem alguém mexendo no meu bolso, é tarde.
E quem pode salvar, tem música e tem ar...

A cidade corre corre sem se importar comigo
E se você passar, e se você lembrar que agora
Ninguém tem tempo, seu minuto, minha hora.
E quem salva?
Tem sangue meu que escorre e a minha menina que para me salvar corre.

Corre e chega, olha e chora, beija e me ajeita.
Olha o céu como tudo está vermelho, eu vejo.
E seu olhar faz tudo parar, não tem carro, não.
Os mosquitos não foram embora, tem calma, tem alma...

E seu olhar fez tudo passar, vida minha agora vai acabar.
Alguém jogou uma pedra de incerteza e de sorte, é morte.
Menina minha chora sem querer continuar, me olha, me olha,
Coloca minha testa no lugar, seus seios se molham do meu sangrar.

Ah, e como escorre esse gozo de vida
Sua voz vai e vem, chamando-me
Mimando-me
Salvando-me


Corre e chega, olha e chora, beija e me ajeita.
É cidade, minha menina, perigosa demais...
E vou caindo de mansinho em seu colo, atirada no chão.
E vou me deixando morrer em seus braços e vou indo... Indo...

Quando escuto o seu clamar de milagre
Ah! Como eu queria ficar
Mas e hora de ir e deixar
Minha vida vai se indo


Vendedores ambulantes oferecem soluções
Meu corpo desfalece em seus braços
Um trovão de natureza anuncia a tal tristeza
Vou-me indo e te deixando, alma minha vai chorando

Teu abraço vem mais que apertado contra meu corpo
Corpo inexato
E não tem mais sangue
Apenas o crime infame


Tem jornal, tem a alma de alguém circulando,
Tem música e tem dinheiro que não é seu, não.
E tudo volta pro lugar, nada mais a se preocupar
Vozes de mosquitos voltam a falar, outro assunto...outro lugar.

Eu e você ficamos ali
Jogadas em um canto da cidade
Eu já sem a alma e você sendo apenas lágrimas.
E quem salva?


By Camila Passatuto

sábado, 21 de novembro de 2009

Poesia Matinal

Acordei com sua lembrança roçando minha pele, seu peso sobre os meus seios e seus lábios acariciando minha boca, e isso foi me despertando da mortificada noite.
De tão real, eu deixei escapar seu nome com o soar da minha voz matinal, pensei que estivesse realmente ao meu lado despertando minha sonolência de mim. Te chamei mais uma vez e sorri, sabia que estava velando por mim, não sabia que era delírio, só entendia a sua presença certa aqui em nós.
Te senti mais um pouco, recordei aquele cheiro, aquela textura e o nosso silêncio.
Seu corpo ainda vinha contra o meu quando abri os olhos e nada vi, mas tudo sentia.
E sentei na cama, delírio maior foi fechar os olhos e poder escutar sua voz que recitava algum texto que nunca pude ler. E nessa hora que começo a ter medo de mim. Medo das necessidades, mas quem não necessita?
E delírio maior foi tentar dormir novamente, e delírio maior foi o queimar de corpo, a procura por um pedaço de você...
E só de olhar uma fotografia, e sentei na cama, e me perguntei se a vontade de chorar era algo infantil ou apenas uma fortaleza arcaica de mulher.
De tão real, eu deixei escapar seu nome e minhas lágrimas.
E não consegui mais nada, levantei e como quem sempre ama, comecei a te procurar pela casa, porque para mim eu acordei com sua lembrança roçando minha pele e você deveria estar em alguma parte da casa, esperando eu te encontrar.


São duas árvores
Mas olhe
Por mais fundo
Eu vejo
Emaranha
E existe

Uma só
Só uma
Uma só raiz.

Água
Falta
Mata
Uma
Mata
Logo
As duas.












Marginal amor
Sempre correto
Nunca mais foi
Eu permaneço
Como sempre
E queima
Você entende?
É infantil
É tão maduro
É o que sinto
Para você
Simples
Fácil
Leve
Leve-me
Para você
Sou infantil
Sou tão maduro
Como sempre
Para você.

By Camila Passatuto

sábado, 7 de novembro de 2009

La Paix


Parem de atirar, eu não suporto
Tanto barulho para pouco sangue
Parem de atirar, é que eu não gosto
Tanto orgulho aqui para pouco acaso

Parem de tentar, eu sei que é não
Tanto sonho para uma linda agonia
Parem de fugir, eu quero mais perto
Tanto de vazio para um corpo cheio

Parem de ser assim, é que preciso ser eu
Tanto rumor de felicidade para uma tristeza
Parem de tirar, eu preciso de muito e agora
Tanto se pede para alguém que nada escuta.

Parem de me matar, é que dói
Tanto chorei ontem à noite...
Parem de mentir, é que fere
E tanto morri por hoje.

By Camila Passatuto

sábado, 31 de outubro de 2009

Mot

Eu não quero escrever, não quero me doer, não quero e não quero. É estranho, mas passa, arrasta, me leva e então procuro algo para fixar o meu sorriso que salva. Mas eu não quero rir agora, eu não quero achar graça das coisas, não quero repetir as mesmas mesmices, não quero procurar em mim mais uma palavra. Tudo foi dito, relido, feito, mal feito, eu fiz...
Já me falei e não me entendi...Agora, refalo, reinvento as palavras para encontrar alguma que me anime...Sempre existe uma que me levanta...Então sento e espero por ela...Espero.

By Camila Passatuto

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ser

Mãe; quero viver escrevendo coisas bonitas, coisas lindas quando meu coração florescer por causa da menina e coisas tristes quando alguma escuridão me pegar no colo.
Mãe; quero fazer da palavra o que vou comer, quero assumir paixões, provocar o poder, inventar pátios de colégios e crianças rosadas. Desejo percorrer cada vez mais fundo nessa minha mente estranha e inacabada, achar monstros pré-históricos, deuses modernos e solidões comunitárias. Vou dedilhar e todos escutarão minha desajeitada melodia, um tec tec, o soneto que conto e conto seus versos, poesia e matemática, vou humanizar tudo isso, vou ser escritora de almas, compositora desapropriada, certa no que nos convém.
Mãe, ser jovem é ser isso, não se assuste, eu quero e tenho muita fome de tragar alguma coisa que vai lembrar Poe e me fazer gritar Huxley. E os olhos manchados dos que estão por aí vão ser inspirações que entrarão por esses poros úmidos e fecundarão em intelecto perigoso, em soma em soma, em suma...vou fazer sonhos, transformar o mundo, mãe. Da desilusão vou fazer poema, do choro do homem sozinho vou fazer respirações pararem, da criança morta no tapete vai renascer emoções e ensinarei o amor. Mãe, vou mudar o mundo, vou ser o que sempre sonhei. Vou escrever a história que os homens querem viver, vou ser isso que se lê, vou ser a pequena e eterna: palavra.

By Camila Passatuto
Bloqueando a seleção de texto em um site


sábado, 24 de outubro de 2009

Verdadeu

O dia mais abafado; gosto de tudo que não tenha a beleza realmente explícita, sem o sol e imaginando qualquer aparecer de necropsia para relatar um autoconhecimento. Gosto do que é bruto e sincero, se não houver sorrisos, melhor ainda, melhor se um risco marcar sua face e minha mão ser dia abafado de carinho.
Gosto de não dar conselhos, conselhos sempre são falsos, risos sempre acomodados em interesses. Gosto de cuspir sinceridade, fazer chorar e nascer realmente em felicidade. Ah! Como é bom ser nonsense, viver aqui como sempre, aqui em corpo, em mente... Só posso entrar, as chaves se perderam, entre pela janela como vândala e escorregue na simples palavra não dita. Gosto de tudo que não tenha o brilho inicial como maior destaque, me atiça alguma dor que me faz poeta, uma história que cative minha imaginação, um sofrer que vou curar com amor.
E tudo se abafa, quando companhia é palavra escrita. E tudo vai se repedindo, filme mal feito, reprise sonsa, mas vamos reinventando um novo roteiro para as mesmas cenas, e um novo fim para a mesma seqüência. Gosto de ser essencial, quem não pode oferecer que me mate antes de jogar quem escrever ao lixo, insuportável.
Gosto de não ser, morrer um pouquinho e esquecer-se de lembrar, imaginar. É, gosto de apenas não gostar dessas coisas bem feitas. Gosto de ser assim, verdadeiramente Eu.

By Camila Passatuto

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Observações 1


Saudade dá frio. É estranho, o mundo lá fora suando e eu no casulo quente sentindo minha pele congelando, as mãos quase não se mexem, o peito amarga e contrai uma sensação de pós-choro. Talvez porque a alma esteja chorando, talvez porque a noite passada as palavras correram sem nenhuma direção e a solução seria você vir me aquecer novamente. Sem lembrar e sem esquecer.
Saudade dá sono. Os olhos pesam e queimam de vontade, os pensamentos voando em várias soluções, os sonhos que sua imagem sempre prevalece. Dormir para ver o mais perto de ti em mim, eu sonho e trago a realidade dele, saudade é sono.
Saudade dá vontade. Minhas notícias querem correr até você, proporcionar um orgulho maior e te fazer sorrir, suas palavras devem estar à procura de meus ouvidos e sua escrita anseia por meus olhos...e eles sentem, eles aguardam...

By Camila Passatuto

domingo, 18 de outubro de 2009

Desajeito

Acordo por obrigação, o meu dever não me atrai, o que tenho que fazer e aonde tenho que ir, tudo é tão vago, tão sem sentido.
As pessoas sempre tão as mesmas, sempre tão pessoas. Não existem mais anjos pelas ruas e eu quero ir embora daqui. Sentir-se deslocado no seu próprio ninho, pobre passarinho...Mas chegou a hora de querer dar a cara a tapas e florescer em outro jardim, talvez no seu jardim.
Não escutar o que a voz irritante tem a reclamar e a me desanimar. Não escutar o que tem a me humilhar e a me deprimir.
O peso disso tudo me esmaga, o cansaço do mesmo quarto, do mesmo correr de horas dos últimos 18 anos nesse mesmo incomodo lugar que me possui por desajeito de destino.
Isso não é mais meu, eu não sou mais disso...agradeço pelo ar que sempre tive aqui, mas hoje ele é escasso, o pouco que resta me conforta aos soluços.
Tudo me leva em lágrimas, não é tristeza...é desajeito de viver. Quando se descobre que não é mais isso, que seu tempo não corre mais aqui, sua alma pede outro reino, outro estreito de penar para voar.
A salvação vem de você, toda esperança que ganhei no cair de um olhar eu levo aqui comigo. E não importa o quanto de desespero queira nascer em mim, só preciso correr até você e renasço com a obrigação de ser feliz.

By Camila Passatuto

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Não!


Não! Não quero ser mero personagem irreal e sem propósito. Ah! Tenho tanto o que gritar, mas, não tenho necessidade de fazê-lo: o grito. Grito, voz que nos esparrama, como confetes de um passado carnavalesco, voz que nos tira energia, explode e aos poucos se cala. Tenho tanto o que gritar, mas tenho tanto o que fazer eterno que seria pecado dar a luz em grito.
Não! Não me peçam para fazer isso, é tão cruel da parte de vocês, estão obrigando o que nasceu de fogo se aquietar em ar manso e úmido, umidade que me faz sem ar, mansidão que deixa tudo tão longe de mim. Tão longe, baby! Quero o ritmo que encontrei por ali e o clima que criei com meu corpo sob corpo dela, eu quero.
Não! Não venham querer abrandar qualquer vestígio de lágrimas, deixe que rolem, deixe que sejam minhas por querer e sem censura, me deixe ser triste na medida do possível e feliz sem margens de erros, mas deixem, me larguem aqui e vão sumir em seus caminhos que nem mesmo existem, vou ficar aqui esperando a cota de tempo acabar, vou ficar esperando o tempo de ser feliz e ir ressuscitando a cada manhã o falso carinho por aquilo que não me cativa. Ah!
Tão longe é tão difícil e só de pensar, e só de querer, e só de viver me vem a vontade de estar mais perto. Não! Ainda sou mero personagem irreal e sem propósito, ainda estão obrigando e ainda fico esperando a cota de tempo acabar. Ser personagem no papel com os olhos úmidos, complica e estraga; ser prisioneiro em liberdade, aliena e fere; ser quem espera no porto por dias que estarão completos, escreve e se faz personagem. Sim!

By Camila Passatuto

sábado, 19 de setembro de 2009

Tanto

O corpo não mais suportava o tanto de alma que ali estava, precisava se emanar, se dissipar de liberdade. Uma liberdade de comprometimento e soltura. Ali a angústia dominava o engatinhar depressivo de seus pensamentos, andava sem os pés e pensava sem a consciência, o que guiava era apenas um querer estranho, misterioso e certo de ações.
O corpo não suportava tanto mar, olhares que de acolhedor só tinham o piscar e o fechar de indiferença. Passos, braços e correu para longe. Deixou e se foi, foi e se deixou um pouco, era preciso encontrar a barreira que do chão não visualizava, quis subir o mais alto possível, queria escalar até perder o que restava de ar e vida.
Os movimentos eram mais que estáticos, apenas o coletivo que o acompanhava é que o fazia parecer móvel, o olhar não cessava e a respiração escassa era o que de mais romântico estava presente, era o que fazia a tristeza algo mais que belo, mais que grego, mas um tanto parisiense.
Subiu, olhou...encontrou muros por todos os cantos daquele mundo em que se incutia mais e mais, observou buracos entre os seres, buracos de desconhecimento, de medo e injustiças. Conseguiu encontrar ouro sobre as cabeças de algumas pessoas que corriam perdidas para direções diferentes, talvez sejam esses os verdadeiros chefes, os verdadeiros mestres, mas estão perdidos, incompreendidos e perseguidos por leis que os julgam como loucos modernos, descontentes prazerosos e construtivistas complexos...seriam esses os verdadeiros donos da tão procurada razão? Não sabia responder, o corpo estava prestes a cair da imensidão, não suportava mais tanto ar...e o que suportaria? Abriu o peito e por um instante precisou comer-se de literatura, foi poeta pela última vez. Se jolgou, caindo e percebendo o tanto de oportunidades, o tanto de liberdade que sempre teve e que de tantos ques se perdeu entre entrelinhas, poemas antigos e manuscritos eternos.
Não restava mais nada, além do que contemplar o cair de corpo, o amar de segundos e a certeza de tanto.




By Camila Passatuto

domingo, 13 de setembro de 2009

Correspondência Poética


Caro Amigo,
Percebi que minhas palavras perderam o foco e se deixaram guiar pela bagunça. A arte me esgotou e agora o que tenho a oferecer são apenas fragmentos salgados e pontes de ponta cabeça.
Hoje me coloquei em frente ao espelho, notei as paralelas nascendo em minha fonte, em instantes o rosto estava molhado, a maquiagem saia, junto com ela toda a inspiração. Ainda com a face úmida, corri para a sala e me estirei no tapete feito um gato gordo e velho que só espera por mais um afago do tolo dono.
Percebi que não se pode ser poeta todos os dias, não se pode ser ator em todas as cenas, não se pode pintar o céu com a tinta azul...
Ao levantar reparei no telefone, talvez uma ligação acabaria com o tédio e nasceria ali a decepção para criar uma obra prima. Um passo adiante e a porta estaria aberta, não ousaria sair, pois ao sentir o sol da manhã a morbidez necessária sumiria.
Caro amigo, o ridículo da palavra me assusta, hoje o silêncio completa o papel, a lapiseira se tornou instrumento obsoleto para o que sinto, sinto...sinto que já foi dito tudo, as metáforas me tão ânsia, o estilismo virou modismo, ismo em esmo...
Amigo, espero que ainda sobre paciência em sua alma para aturar minha decadência poética...
O nulo me consome,
Repetições feitas.
Minha fuga ali,
...correspondência .
By Camila Passatuto
05/03/08

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Conto de criança n°1


A tarde toda brincando, o sol vai se escondendo e perdendo a sua força, mas parece que nós crianças vamos ganhando uma energia que vai e se multiplica com o passar das horas. Sempre a esse horário tem gente voltando da escola. Ah! Escola. Eu acho engraçado o pessoal mais velho da escola, eles são diferentes da gente. Nós não andamos em bando, apenas brincamos com todo mundo, fazemos amigos com facilidade, um pega-pega e uma brincadeira de esconder e pronto, amanhã nossa turma muda ou entra mais gente, é um eterno renovar.
Nesse brincar as pessoas acham que não, mas, fico reparando as pessoas que passam pela rua. Olham a gente, acham engraçado, uns velhacos reclamam do barulho, os bêbados até querem entrar na brincadeira, mas temos medo e fugimos para o outro lado da rua.
Nesse meu reparar de pessoas um dia me surpreendi, se surpreender é que nem se engasgar com calda de pêssego, a gente se assusta, mas é gostoso. Mas voltando ao meu surpreender... Minha surpresa foi uma moça que mora aqui por perto, nunca havia visto uma pessoa tão diferente, diferente do modo bom. Ela anda com os pensamentos altos, tão altos que eu penso que posso ouvir. Corro para o seu lado e pergunto seu nome, com um olhar que mistura desprezo e carinho, ela responde: Monick. Monick poderia ser minha nova amiga, poderia brincar com a gente, ser mais uma no meu renovar de turma. Mas a Monick já é grande, grande como um dia eu vou ser, ela é misteriosa e tem o olhar mais misterioso que eu já vi. Ela nunca conversa muito quando eu a vejo passando por aqui, talvez seja tímida, tímida como eu sou quando mamãe me manda dar beijo nas visitas. Será que sou que nem visita pra Monick? Bom, a Monick é grande, mas pra mim só é grande de tamanho, ela é criança feliz, eu sei. Mas criança não usa brinco na boca e nem tem desenhos pelo corpo... A Monick tem tudo isso, todo mundo fala que é moderno, eu só acho muito bonito o modo como aquele piercing, como é chamado o tal brinco, brilha e faz com que eu não entenda como alguém consegue comer com aquilo, vovó sempre diz que gente do mal que usa isso, mas a minha amiga Monick não é do mal, ela só usa brinco na boca e eu acho muito bonito.
A minha amiga Monick, eu acho que ela é minha amiga eu gosto muito dela e amigos sempre se gostam... Não sei se ela gosta de mim, mas toda vez que estou na rua e a vejo chegando da escola eu corro pro lado dela, dou um grande abraço e falo para meu amigos: gente essa é a Monick. Ela fica vermelha de vergonha e parece não entender minha reação... Ah! Mas eu só quero que ela entre para a minha turma, para o meu eterno renovar de turma.

By Camila Passatuto

sábado, 29 de agosto de 2009

Nascer

Não acontece como deveria acontecer, o pensamento é quase inexistente, o querer está dentro de seu corpo, mas alguém alienou os sentimentos de revolta. O olhar no espelho mostra apenas pele e vontade, olhos sem nenhum vestígio de dignidade. Ao sentar para o café, a fome se alimenta de não estar, de um mal ficar permanente. A felicidade brinca demais com sua solidão, não é feliz longe de platéias, platéias que exijam sua agonizante felicidade.
Tudo começa a voltar a ser só metade, a ser um inacabado pensamento, um desfeito final... Sua abstinência machuca mais do que qualquer vício, coloca em ruína a concepção de qualquer projeto melodramatizado.
Não acontece, seu corpo sobrevoa, suas perguntas esqueceram do contexto, o seu contexto fugiu por alguma brecha da cabana. Procura telefones, investiga sobreviventes de sua amnésia momentânea; o que acha é apenas trapos de destinos possíveis em sonhos que desdobram por ali.
Ao clamar um nome, seu corpo cansado descansa de esperança, alguma salvação pode entrar pela porta, um anjo destemido e sem pudor. Ao permanecer diante de realidade, se assusta, imagina, replica... O anjo chega sem perguntas, o liberta de sua moralizante dor. Ao reclamar um nome, sua alma descansa cansada de angústia, nenhuma atormentação pode o tirar dali, um anjo destemido zela por ele.

By Camila Passatuto

sábado, 22 de agosto de 2009

Julho Breve*

Sob um sol envergonhado, uma brisa tão menina e o som ambiente mais que nulo, estavam lá. Eu nem percebia que em mim algo fazia parte, ela também não se esquivava da distância evocada naquele momento. Nossos corpos ali estavam, sob um sol envergonhado, uma brisa tão menina e o som ambiente mais que nulo, estavam lá.
Minha presença, junto com a dela, desfalecia em pleno inverno tropical. Eu voava, ela talvez estivesse imersa em sonhos ou sofrimentos, mas eu voava na imersão da garota e não importava qual fosse, eu sei que estava ali, em lugares que nunca percorri, mas ela me guiava com a respiração e me protegia com o simples não querer de acontecimentos.

By Camila Passatuto


Bloqueando a seleção de texto em um site

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Fobia Minha

Não quero me afogar. Sentir. Conter-me de água, não quero me desesperar quando começar a afundar. Sentir e ressentir esse medo, quero sair seca do excitante mar de desarmonia que formou ali por adiante de meus pés. Pés úmidos, as lágrimas caíram, me molhei de mim, me afoguei de eu.

O desespero ainda toma conta, como um pai atencioso toma conta de sua ninfa desprotegida. A água chega e me transcende de mim, me excita com a fobia de densidade, com essa física de números racionais e com a vida submersa que me deseja.

Tenho medo e procuro no espaço atemporal uma escrita que não confunda, mas que não se explique, que não me desaponte, mas é tarde...a água bate no peito, e tudo me aperta, a água invade o nariz e meus pulmões e tudo escurece. Não mais grito, não mais evoluo, não mais, nada...

E acordo. É sonho ruim. É tempo bom para aprender a nadar.


By Camila Passatuto

domingo, 9 de agosto de 2009

Escrita de saudade


Estou aqui, meus olhos percorrem o quarto, uma inútil tentativa.
Sua alma dança, etereamente, entre o brincar dos meus dedos e o chorar de um desespero que te clama.
Seu riso voa por esse ar, ar que sem você fica tão parado, estonteia e mortifica.
Estou mais em mim ou estou tão em você que me perco no ninho que sempre me criei, pois não tenho a latitude nem a longitude de seu corpo, corpo que me guia, corpo que procuro.
Estou aí, mais aí do que aqui, nunca aqui e sempre aí, em cada respirar, em cada detalhe de existir que você insiste em conduzir. Permaneço sendo constante, constantemente sendo sua por amor do amor, por tudo e por nada. Continuo crescendo e o que sinto continua a crescer, por motivos e sem motivos, por força do destino e por fraqueza de brisa que ainda não chegou.
Estou aqui, mas sem questão de estar, se faz sentido ou se deixa de fazer...sem o seu toque eu não consigo, sem o seu cheiro e o seu jeito...não tem jeito...estou aqui, mas sabe...mais aí do que aqui.

By Camila Passatuto

domingo, 26 de abril de 2009

Escrita 1802


Seu sorriso é o que me faz realmente feliz. Não importa se vivo rindo pelas ruas, se sua alma não consegue encontrar paz, minha alegria não se completa, talvez nem exista, se em você ela não se consagra.
Então, se algum dia sentir falta de algo, eu peço...tire de mim e se satisfaça por inteira.
Seu sorriso é o que me faz realmente feliz.
Hoje te ofereço toda a luz que emana, todo bom sentimento que minha alma possui; possui graças à você.
Hoje se sentir frio, leve todo o meu calor, mas sorria.
Se sentir medo, leve toda minha coragem, mas sorria.
Se houver lágrimas, leve todos os meus gestos carinhosos, mas sorria.
Se quiser gritar, pegue toda minha revolta, mas grite, mas mude, mas...sorria.
Se desejar cantar, leve meus discos e cante e dance sem vírgulas sem medo sem portas.
Se quiser amar, me leve em seus braços, caminhe comigo, me ensine, deixe tudo acontecer.
Mas sorria comigo.
Seu sorriso é o que me faz realmente feliz.
Então, receba todo o meu amor, se é piegas...se é muito fora de moda expor assim nossos sentimentos, não importa. Conselhos, conselhos, conselhos, conselho.
Todos somos meramente individualizados em corpos, mas leve minha alma, misture com a sua, nos faça e refaça, construa, brinque, sonhe e misture novamente; mas, meu amor, sempre sorria.
By Camila Passatuto

sexta-feira, 13 de março de 2009

Feito para ler.

Rádio ligado, o som do computador tocando outra canção, a tv me passando fúteis informações, a perna não para de balançar, os lábios mordidos, as unhas todas ruídas...
Parar de escrever e fazer o que tem que ser feito, pensamentos alternados e um esquecimento do recente minuto, dez coisas para administrar e um sentimento de descaso com o mundo. Um minuto depois...A revolução é a solução, mailing de influentes jornalistas, então só enviar a proposta já aceita, mas decorre em segundos a decepção de ser uma fatia de nada no livro dos desprazeres mundanos.
O que planejei para hoje? Deixar a memória e ler um livro...Cinco páginas e a concentração é inexistente. Escrever, mas esqueço a função da morfologia, não entendo os códigos e sou incapaz de formular uma frase.
Mais um minuto e desisto da respiração, interessante seria vegetar em área plana e analisar o que parece que nunca ouvi falar, porém sei na ponta da língua o que antigos sábios escreveram. Os espíritos sobrevoam, alguns se mostram grandes demais e o susto passa entre os vãos tímidos do éter.
Levanto e na sala me acomodo no sofá, mudo os canais...grito: Parem, existe algo errado...Mas deixe-me descobrir o que é.
Um copo d’água, passos para a cozinha, o líquido desce suave, retorno para sala e o controle some, estava entre os dedos, mas fantasmas existem, caro leitor.
No quarto a euforia toma conta, mas depois ela passa e me joga na mesmice sensação de embriagues autodidata. O ofício condena, então vago entre palavras tentando entender o que posso fazer para salvar a alma inquieta que o meu corpo abriga.
Abro os olhos, fecho as janelas...repenso em outra escrita, escrevo e a calmaria toma conta.
E agora o que resta é amar.

By Camila Passatuto