Biografia da Autora

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Autora dos livros "Nequice: Lapso na Função Supressora" (Editora Penalux, 2018) e "TW: Para ler com a cabeça entre o poste e a calçada" (Editora Penalux, 2017).

Editora do projeto editorial O Último Leitor Morreu (conheça o projeto e as publicações). Escreve desde os 11 anos e começou a atuar nos meios digitais, com blogs de poesias e participações em diversas revistas e projetos literários, em 2007.

Contato: camila.passatuto@gmail.com


sábado, 8 de novembro de 2008

Mais uma de Saudade (Parte II)

Alguns passos e estaríamos do outro lado da ponte, a chuva, sem timidez, era cúmplice de tudo aquilo. Você atrasava os minutos, eu fugia em pensamentos e incutia em nós alguma esperança. A saudade iria nos engolir se por acaso eu traísse nosso momento, com você só a fuga, nada fugaz.
Ainda sentia seus lábios se arrastando sobre os meus, minhas mãos dominando seus movimentos. O mundo girava em anti-horário e não pude notar, seu olhar consumia toda minha atenção.
Algum sentimento divino retirava meus pés do chão quando ouvia seus dizeres de amor, o coração batia em ritmo acelerado e a alegria tomava conta do momento.
Mais alguns passos e estaríamos do outro lado da ponte, a chuva deixava mais romântica a minha dor, ao pensar que poderia soltar sua mão e assim desconhecer o calor, os passos não se cumpriam...
Levando-me ao ponto mais alto de sua montanha mais íngreme, você atrasava o mundo, sem se importar com ninguém, me colocou diante de sua beleza e me cedeu teu amor de forma tão divina que os deuses do Olimpo deixavam jorrar seu gozo por entre as nuvens.
O mundo naquele momento recebia dos céus o nosso amor, eu apenas me agarrava a você como uma criança aflita e carente de tudo que o universo me roubou.
Adormeci, sonhei, procurei em sonhos Dante, ele me levaria a você, pois já sabia o caminho...mas ele ignorava o meu medo e fugia para dentro de sua própria ilusão. Acordei e ao meu lado desfalecia a minha garota, sorri e alguns passos me separavam da porta, e alguns metros me separavam da carência, e alguns quilometros me aproximavam de mais uma...mais uma escrita...mais uma de saudade.





By Camila Passatuto




Bloqueando a seleção de texto em um site



domingo, 21 de setembro de 2008

Mais uma de Saudade (Parte I)

Guiando o carro, com um medo infantil, olhava sem parar para os retrovisores, as gotas de chuva e o cinza daquela meia tarde me faziam tremer...Sóbria demais para tal façanha, mas ali estava, sozinha em uma pequena estrada, a compra no porta-mala, o troco no porta-luva e meu coração no seu porta-corações.
No rádio tocava Djavan “ .. te adoro em tudo, tudo, tudo...”, aumentei timidamente o volume e senti as gotas de chuva percutirem em harmonia com a canção. As luzes dos postes começavam a enfeitar minha despojada cena solitária que ia se desenrolando com uma certa cumplicidade, entre os elementos oferecidos ali e minha intensa saudade.
Se pudesse fecharia os olhos para imaginar seu rosto, mas isso não era necessário porque ela se materializava ali no banco do passageiro, em um subido espasmo quase desviei a direção do carro, mas me contive...não poderia imaginar, ela estava ao meu lado, minha mente a trouxera para mim, e o que fazer?
Mantive a calma, a chuva insistia em cair alegremente, zombando da minha situação.Perguntava-me a todo instante se aquilo não seria um fantasma que viera me buscar, pois sou dessas que provavelmente aos 27 não existirá mais no mundo, mas fantasma nenhum teria uma presença tão angelical como aquela...
Inclinei rosto para o lado e lá estava a minha garota a sorrir, com timidez nos lábios, sua pele branca desmentia qualquer repúdio de não-virgindade, os olhos magicamente me chamavam para mais perto e no tom mais apropriado ela me disse: “Amor, porque o susto? Não gostou de me ver?”. Ao ouvir aquelas palavras que soavam em um sotaque tentador e em uma delicadeza medieval, não pude conter um breve sorrir de alma e ela, como se conhecesse o ponto mais intimo de minha alma, sorriu com os olhos cheios de carinho.
Eu não mais guiava carro algum, não sentia a iluminação da cidade, não ouvia a chuva e desconhecia a existência de Djavan, Caetano e qualquer outro mané.
A única coisa que me passava pela cabeça era encostar o carro e poder entender tudo aquilo com um abraço. O coração acelerado, a respiração, que antes era inexistente, agora era intensa.
Estacionei o carro em uma rua qualquer, pude sentir seus olhos percorrerem o meu corpo e depois se fixarem em meus lábios. Eu queria só saber o que passava por sua mente, queria saber como poderia estar ali ao meu lado, tão possível, tão visível, tão linda e real.
Olhei em seus olhos e respondi à sua esquecida pergunta: “O meu susto é infantil e te ver é o que meus olhos mais desejam fazer quando sua imagem persiste em fugir”. Sem eu perceber ela se encostou em minha roupas, acariciou meu pescoço, percorreu seus dedos pelos meus lábios e rosto, sem pedir permissão desfez a distância entre nós com um delicado toque de bocas, que aos poucos se transformou em um beijo cheio de vontade, cheio de carinho e saudade. Pude sentir a textura indecifrável de sua língua deslizando, dançando sensualmente dentro da minha boca, a menina que me namorava, a menina que ali estava de sigla M.D. me mostrou um desejo antes desconhecido por minha pele. Assustei-me com o turbilhão de sentimentos e rompi com a farra das línguas, ela se agarrava em minhas pernas, pude sentir seus seios nos meus e a respiração da minha garota fazia suar meu rosto. Como se nossa ilha fosse aquele carro , como se minha saudade fosse a fonte das realizações, como se eu ainda não houvesse tido mais ninguém em minha vida, eu estava ali feito um filhote e aquela mulher seria a que me ensinaria a voar, a dar os primeiros passos, a ter o seu corpo pela primeira vez. Ela me conduzia com o olhar e num instante preciso disse: “ me ama?”, respondi sinceramente: “mais que tudo nessa vida, mais que minha própria vida, te amo e minha alma suplica e diz que preciso de você o quanto antes”, ela ainda se agarrava em minhas pernas, suas mãos estavam firmes, sua boca ainda estava a uma incrível distância inexistente que permitia nossa conversa, meu rosto ainda suava com sua respiração.
Olhou-me e mais uma vez e para alegria de meus ouvidos começou a falar: “Tenho que ir, ainda não é hora, mas saiba que estou sempre a te amar, te amo e isso é a única certeza que tenho, a saudade é grande, mas não maior que o meu amor por você, estou aqui para te mostrar que nunca te deixarei, te amo e você é quem eu quero para sempre ao meu lado”. Sem pensar no que falar, respondi: “ Se soubesse o quanto te amo, não partiria agora, ficaria comigo, fugiríamos...eu te amo, a cada segundo que passo sem você é uma descompassada tristeza, preciso de você a todo momento, se respiro é por um único motivo, porque te amo...você é minha vida e...sem você tudo é apenas um dia cinza e chuvoso” deixando cair uma lágrima, continuei: “Agradeço por estar em minha vida”.
Ela me olhava com tanta ternura que roubou de mim mais um sorriso de alma, ela se mostrava como uma divindade, talvez seria alguma deusa que fugia do Olimpo e viera me amar por piedade. Fechei os olhos e senti seu perfume, que não era perfume de frascos, mas sim perfume de espírito.
Ao abrir os olhos, quase cai por me desequilibrar...ela não estava mais ali...
Ela esteve ali?
Olhei desesperadamente pela rua, liguei o carro e a procurei, mas não existia sinal da minha garota por parte alguma. Desviei o olhar para um ponto qualquer do céu que ainda muito nublado conseguia me ceder uma pequena estrela, olhei a com a curiosidade de uma criança e deixei escapar umas palavras: “ é, olha o que ela me faz, mas sabe...é isso que me faz ter certeza que é ela a mulher da minha vida...e a cada dia, a cada minuto que a saudade aperta mais e mais, o meu amor fica mais forte...eu a amo e obrigada, Deus, por isso".

(continua...)

By Camila Passatuto

domingo, 14 de setembro de 2008

Je t'aime

Eu sempre vivia escrevendo pelas paredes da cidade, nos bancos da praça, nas folhas amassadas, em um avental velho, no caderno esquecido, em uma sulfite intocável...Os temas, sempre os mesmos, descontentes, desavisados, puros e ao mesmo tempo se limitavam às minhas crises de angústia.
Hoje não escrevo...Os temas não existem em meu dia-a-dia, e se existem eu os ignoro como se esses fossem uma vespa chata que perturba o sono do pobre mendigo sonolento...
Hoje minhas palavras têm direção, evocam um nome, despertam uma princesa, alimentam um sorriso, declaram uma saudade, glorificam um instante...
E se eu fosse parafrasear meus sentimentos, colocaria a menina de meus sonhos diante do papel. E se eu fosse rimar...e se eu fosse repetir...e se eu fosse explicar, colocaria o seu suor sobre as folhas e ali estaria a arte que iria me satisfazer por inteira.
Eu sempre vivia escrevendo pelas paredes da cidade, hoje eu vivo ensaiando frases para te encantar...roubando momentos do Senhor Tempo para poder estar um instante eterno ao seu lado...hoje eu vivo cantarolando seu nome, desenhando em mim suas promessas, edificando no espaço nossos planos, apagando minhas velhas escritas, escrevendo nosso novo caminho.
Talvez eu seja uma pseudoalgumacoisa, talvez eu não seja nada...mas quando posso ouvir sua voz, entender seus medos, despertar em você um tímido desejo é nesses momentos que me torno alguém no mundo.
E eu sempre vivia escrevendo pelas paredes da cidade, eu era sozinha, eu sentia frio e hoje você me acompanha pelos trilhos, insere em mim um calor que a principio eu desconhecia...hoje eu sei, eu conheço, eu entendo...isso tudo é apenas um verbete de quatro letras, para os infelizes, mas para mim isso é tudo...isso é o que nos move...isso é o nosso eterno amor.Te amo.



By Camila Passatuto

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Escrevendo ao Mestre

No meio da bagunça estava lá o que restou de você, um dvd com alguns shows...Sem pensar no que ia me acontecer comecei a assistir, ao escutar Drain You, foi inevitável, comecei ensaiar um choro bobo e sem motivos, quantas vezes me apaixonei e como trilha sonora ela embalou minhas loucuras. Nunca escutei suas músicas para lembrar de ninguém mas para recordar o que eu sempre esquecia: que não são só as outras pessoas, por mais que elas estejam aos milhares, minhas emoções ainda tentem a ser o mais importante para mim, na teoria eu sempre me sai bem, mas no dia-a-dia apenas as suas músicas me colocavam em sintonia comigo mesma...

Minha infância eu cantarolava com alguns primos mais velhos, na minha pré-adolescência já se tornava essencial me fazer um anti-projeto de grunge girl, no apogeu da adolescência eu queria ser você, mas queria ser tanta coisa, queria ser um tudo mas bem pequeno e encolhido.
Mas o tempo passou...Algumas pessoas me usaram, eu usei umas pessoas, eu usei algumas drogas, algumas drogas me usaram e eu ganhei uma lasca de experiência...

Eu envelheci espiritualmente e deixei de achar graça nas coisas engraçadas...
O mundo me quis de cara limpa, dizem aqui que é assim que se vive realmente, então me afastei de algumas artes, de alguns conceitos e fui viver limpa de idéias e construir minhas próprias ideologias e segui-las como um cão cego.Novamente me usaram e usaram o meu potencial de ser uma garota dramática, apagaram o meu brilho por instantes que me pareceram tão eternos, eu precisei me machucar para voltar a minha antiga realidade, mas não se vive o antigo...Afastei-me do seu som por pura falta de tempo, esqueci as portas e as legiões...

Há pouco tempo destruí todos os seus cd’s, não lembro de ter feito isso, mas aos cacos estavam todas as canções...
Hoje eu quis escutar Polly então coloquei o dvd para rodar... Eu sei que nunca vou poder ouvir isso sem derramar uma lágrima...
Hoje eu não sigo nada... Nem sei do que gosto... Meu gosto sempre foi muito escasso... Sempre só gostei de Nirvana.










By Camila Passatuto

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Esse medo...

Esse medo de te avisar é que estraga boa parte de toda uma parte, estou sentado diante de você na cozinha de sua casa, não escuto nada do que tem para me falar, só sei que o que fala deve me magoar muito, você espera alguma resposta, mas não sei qual foi a pergunta, seu olhar é de malícia e mentira, mas estou te enganando mais do que você à mim, faço você pensar que me importo e que tudo que acontece é por acaso. Mas manipulo seus amigos e seus pensamentos, piso no jardim e acuso o vizinho, mato-te aos poucos porque sei que está me matando, só não me entrego porque não tenho culpa de nada. E quando caminhar pela rua irá ver o meu nome incutido em todos os seus passos e quando perceber que a lua é cheia irá lembrar das quadro semanas que me ofereci para te ajudar. Quando me levar daqui e me jogar no chão do quarto e ligar a televisão saiba que ela também me deseja e que a culpa é toda sua. Ao me deixar esperando toda noite em sua cama, lembre-se que um dia o meu valor irá subir e você não terá dinheiro para me comprar novamente e antes de me tirar da sua vida, lembre-se também que depois disso o inferno te acolherá e eu estarei assistindo tudo sob um céu azul e sem nuvens.

E esse medo de te avisar é que estraga boa parte de toda uma parte, mas ainda estou sentado diante de você na cozinha de sua casa.




By Camila Passatuto

sexta-feira, 21 de março de 2008

apenas livros...

Um dia me perguntaram quantos livros eu já tinha lido em toda minha curta vida, não pude responder porque nunca terminei de ler um. Nunca tive paciência para ficar horas a fio me afogando em histórias que não me incutiam. Em vez de lê-los eu apenas os usava, sim era isso, sempre saia da biblioteca com dois ou três livros, era mágico o poder que eles me davam, muitas vezes eu os abria em minhas viagens de trem e ali era onde mais me dava prazer, fingia que podia devorar rapidamente as linhas, mas apenas passava os olhos naquelas pequenas palavras e nada de compromisso com o encarte.

Ao chegar em casa sempre os jogava num canto e deixava que eles admirassem minha estreita relação comigo mesma.
Os livros sempre me foram indispensáveis, quando criança rasguei uma enciclopédia inteira e para não levar um dos maiores castigos enterrei no jardim a minha vitima, ali estava uma história para contar aos netos ou até mesmo as respostas para todas as minhas dúvidas.
Um dia me perguntaram se eu iria publicar um livro, mas eu me pergunto, para quê? Sei que nunca vou lê-los e no máximo eu iria rasgá-los e enterrá-los para que ninguém soubesse e nem contasse para meus netos o que fui capaz de criar ou até mesmo para ninguém saber das minhas miseráveis respostas...

By Camila Passatuto




quinta-feira, 13 de março de 2008

dia-a-dia

Sentou, pegou uma caneta preta e uma folha qualquer, decidiu escrever algo que fosse deprimente, logo se viu rodando por palavras de rasos sentimentos, o olhar percorria as linhas pautadas na folha, sua inspiração não podia ser mais a mesma alma quebrada de todos os antigos poemas, agora vivia em tempos de garoa calma e de algodões doces, sua escrita sairia mansa e tímida, se conhecia muito bem a ponto de não poder falar sobre si mesmo nos textos. Ainda com a folha em branco e a caneta acomodada sensualmente no canto da boca, uma explosão de pensamentos consumia a pobre criatura, por onde começar? Que ritmo tomar? Que musa roubar...? Odiava as rimas, achava-as de um pobre gosto literário, só se permitia rimar em silêncio.
O barulho alucinante de uma buzina soava do outro lado da rua, isso desviava seus pensamentos, mas num instante impreciso rabiscou algumas palavras, olhou-as com carinho, como uma mãe mira um filho ao chegar, passou os dedos sobre o papel como se tirasse a poeira chata do orgulho artístico, sem mais enrolação deixou o papel de lado e caiu assimetricamente na cama, suas mãos que a pouco se dedicavam a arte de escrever agora tomava um rumo incerto percorrendo sua pele, deslizando em suas curvas e se colocando à serviço da distração.
Após um tempo, sentou-se, pegou a mesma caneta preta e um papel qualquer...Era hora de começar a ser poetisa novamente...


By Camila Passatuto

Bloqueando a seleção de texto em um site


domingo, 9 de março de 2008

Rumo ao...

Espiou pela fechadura o que se passava lá fora, era um dia úmido e calmo demais para ser o seu dia, talvez o calendário seja do ano retrasado e hoje não seja exatamente hoje, mas mesmo assim o relógio marcava a despedida e o empurrava em um abismo calmo e claro... Olhou ao seu redor e seus objetos diziam adeus com a imobilidade de quem perde uma partida de xadrez, as paredes não se mostravam tão insignificantes como a tempos atrás, hoje elas o olhavam com tristeza e ao mesmo tempo com uma cumplicidade...só elas sabiam... como se calar diante de tais crimes...
Malas prontas e uma pontinha falsa de orgulho que o tirava dali o mais depressa possível, sem olhar para o que estava deixando, seguiu firme pela rua, pensou em tudo o que fizera até ali, questionou se o que cometera no passado tinha válido de algo para o seu tão presente futuro, relembrou de momentos de falsa alegria e se surpreendeu consigo mesmo, tivera a força de um leão sendo apenas um canarinho sem ninho...Hoje o leão deveria aparecer e devorar sem dó o pequeno canário...
Ao se acomodar no ônibus de viagem e sentir o motor rugir, sua alma deu um salto que quase se escapuliu de seu corpo, seus olhos fixaram uma imagem de poucos minutos atrás, o sentimento que se descobriu ali foi o do mais fútil possível, não conseguia pensar em outra coisa a não ser naquela imagem...Nada mais o importava naquele instante, malas, adeus, paredes, crimes, passado ou futuro...Nada se comparava ao que acontecera a minutos atrás....Com toda aquela confusão ele se esquecera de pegar sua coca-cola que já tinha deixado paga no barzinho da rodoviária...Sem mais o que fazer, fechou os olhos e num suspiro bobo e mal feito deixou transparecer um sorriso de criança que espera sem sono o seu primeiro dia de aula.

By Camila Passatuto